Milhares de palestinos fogem de Rafah por temor de ofensiva terrestre israelense
Durante a "Nakba", cerca de 760 mil árabes palestinos fugiram ou foram expulsos de suas casas
Palestinos que se refugiaram em Rafah deixam a cidade - Foto: Mohamed Abed/AFP
Por AFP
Dezenas de milhares de civis continuam fugindo nesta quarta-feira (15) da cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, bombardeada por Israel e ameaçada com uma grande ofensiva terrestre, no dia em que os palestinos relembram a "Nakba", a "Catástrofe", que a criação do Estado de Israel significou para eles em 1948.
Durante a "Nakba", cerca de 760 mil árabes palestinos fugiram ou foram expulsos de suas casas, segundo dados da ONU, para se refugiarem em países vizinhos ou no que viriam a ser a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Neste último território, sitiado e devastado pela guerra entre Israel e Hamas, a população civil, várias vezes deslocada desde o início do conflito, voltou às estradas tentando encontrar refúgio, embora a ONU diga que "não há lugar seguro em Gaza".
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu destruir o Hamas - que está no poder em Gaza desde 2007 e que é considerado um grupo terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia, após o ataque mortal perpetrado pelo movimento islamista em 7 de outubro.
Para alcançar o objetivo, Netanyahu está determinado a lançar uma grande operação em Rafah, cidade no extremo sul do território onde vivem centenas de milhares de palestinos em zonas superlotadas, a grande maioria deslocados, onde estariam, segundo o primeiro-ministro israelense, os últimos batalhões do Hamas.
Esta invasão preocupa a comunidade internacional, a começar pelos Estados Unidos, principal aliado de Israel, por suas consequências para a população civil.
"Desacordo" sobre Rafah
Netanyahu acredita que Israel, que realiza uma operação militar em Rafah desde 7 de maio, evitou "uma catástrofe humanitária" na cidade. Por enquanto, quase meio milhão de pessoas evacuaram a zona de combate de Rafah.
"A catástrofe humanitária de que se fala não ocorreu e não ocorrerá", disse ele em um comunicado. O Exército ordenou que os civis abandonassem os setores orientais de Rafah em 6 de maio, e a ONU estima que quase 450 mil pessoas foram deslocadas à força desde então.
A União Europeia apelou na quarta-feira a Israel para "cessar imediatamente" sua operação em Rafah devido ao risco de "prejudicar gravemente" sua relação bilateral. Embora o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenha ameaçado há poucos dias limitar a ajuda militar americana a Israel para a sua ofensiva em Rafah, o Executivo notificou na terça-feira o Congresso de que irá proceder à entrega de armas a Israel no valor de cerca de 1 bilhão de dólares (R$ 5,1 bilhões), disseram fontes próximas à AFP.
Em uma entrevista à rede americana CNBC, Netanyahu reconheceu um "desentendimento" com o seu aliado americano "sobre Rafah". "Mas devemos fazer o que devemos fazer", acrescentou.
Washington também instou Israel a trabalhar em um plano pós-guerra para Gaza e apoiou uma solução de dois Estados, à qual Netanyahu e seus aliados de extrema direita se opõem fortemente.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou, nesta quarta-feira, que "Israel não deveria ter controle civil sobre a Faixa de Gaza" depois da guerra. "Repito para deixar claro: não aceitarei o estabelecimento de uma administração israelense em Gaza", declarou.
Combates "intensos"
A guerra foi desencadeada pelo ataque dos comandos do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro que deixou mais de 1.170 mortos, a maioria civis, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Mais de 250 pessoas foram sequestradas durante o ataque e 128 permanecem cativas em Gaza, das quais 36 teriam morrido, segundo o Exército.
Depois de mais de sete meses de guerra, 35.233 pessoas morreram em Gaza devido à ofensiva de Israel, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Jornalistas da AFP e várias testemunhas relataram nesta quarta-feira o prosseguimento de ataques aéreos, bombardeios de artilharia e combates durante a noite e a manhã em Rafah, Jabaliya (norte) e no bairro de Zeitun, na cidade de Gaza.
O braço armado do Hamas, as Brigadas Ezzeldin Al-Qassam, confirmou confrontos com as forças israelenses no campo de refugiados de Jabaliya.
O Exército israelense também relatou combates “intensos” na cidade de mesmo nome e disse ter matado “um grande número de terroristas”.
Os confrontos também ocorrem em “setores específicos” do leste de Rafah, onde o Exército afirmou ter realizado uma operação contra um centro de treino do Hamas.
Em Bureij, no centro da Faixa de Gaza, Khairi Al Kunz segurava o corpo de sua sobrinha, morta em um bombardeio.
"Ela é uma menina inocente (...), ela não tem nada a ver com o que está acontecendo, por que esses criminosos mataram ela?", questionou.
Além dos bombardeios e dos combates, a população de Gaza sofre com a escassez de alimentos. Segundo o Catar, a ajuda humanitária não chega aos habitantes do território palestino desde 9 de maio.